Bellintani parecia querer repetir a história do empresário Alexandre Kalil
Rodrigo Daniel Silva
Quando Guilherme Bellintani decidiu deixar o governo de ACM Neto para ser presidente do Bahia em novembro de 2017, o mundo da política baiana não tinha dúvida: Bellintani usaria o clube como trampolim para chegar à prefeitura de Salvador. Ele nunca admitiu, e provavelmente nunca reconhecerá que se tornou dirigente esportivo de olho no Palácio Thomé de Souza, mas todas as ações e as declarações foram nesta direção.
Bellintani parecia querer repetir a história do empresário Alexandre Kalil. Presidente do Atlético Mineiro entre os anos de 2009 e 2014, Kalil conseguiu sanar as dívidas do time, contratar craques, como Ronaldinho Gaúcho e Diego Tardelli, e conquistar a preciosa Taça da Libertadores. Com a enorme visibilidade pública adquirida, elegeu-se prefeito de Belo Horizonte dois anos após deixar o clube. A história de Bellintani, como presidente do Bahia, no entanto, tem sido marcada, até o momento, mais por malogros do que sucessos.
O bom desempenho como secretário municipal fez Bellintani construir uma imagem pública de um gestor competente e equilibrado. Talvez, tenha sido o melhor integrante da equipe de ACM Neto durante os cinco anos que permaneceu na administração. Apesar do êxito como secretário, ele parecia saber que as chances de suceder ACM Neto, como sonhava, eram remotas se continuasse na gestão, pois, o vice-prefeito Bruno Reis sempre foi considerado o nome natural para receber o bastão.
A alternativa, então, encontrada para virar prefeito foi deixar as hostes de ACM Neto, e ser presidente do Bahia. Como secretário, Bellintani obteve uma boa fama de administrador, mas lhe faltava popularidade para vencer uma eleição majoritária. E quem poderia lhe dar mais visibilidade pública do que o Bahia, não é? A presença em eventos sociais e na mídia se tornou frequente. Se tivesse tido mais sorte como dirigente esportivo, talvez, aparecesse melhor nas sondagens de opinião do que Bruno Reis, e poderia ter sido até o candidato a prefeito de ACM Neto na eleição passada. Mas o destino não quis vê-lo como postulante naquela corrida eleitoral.
A pergunta que se faz necessária agora é: valeu a pena para Bellintani ser presidente do Bahia? Em parte, sim. Não há dúvida de ganhou uma popularidade que não tinha a tal ponto de ter o nome gritado nas ruas, como ocorreu recentemente enquanto corria em Praia do Forte ao lado de ACM Neto. Por outro lado, como mandatário esportivo, Bellintani arranhou a sua imagem de gestor competente e equilibrado. Deixou os salários dos jogadores atrasar, fez contratações equivocadas, como o próprio admitiu ao demitir o técnico Diego Dabove, e mostrou reagir muito mal em momentos de pressão. Em diversas oportunidades, sumiu e não prestou esclarecimentos a torcida sobre a situação do clube. Também demonstrou uma certa falta de controle ao xingar de “merdinha” a arbitragem, o que fez ser advertido pela Justiça Desportiva.
Agora, um dos episódios mais marcantes da gestão de Bellintani no Bahia foi o boicote aos bares da Fonte Nova. Contrariado com os preços da cerveja, sugeriu a torcida que não comprasse no estádio, e chegou a vender mais barata a bebida fora da arena. Os torcedores abraçaram o boicote, e o dirigente esportivo mostrou ter uma força política na época de dar inveja a qualquer líder populista. Fico a pensar, entretanto, se seria correto um prefeito propor boicote a empresas como a Uber, por achar abusivo o preço da passagem. Não me parece logo que essa postura seja adequada para quem um dia deseja ser prefeito da quarta maior capital do país.
É evidente que, como presidente esportivo, Bellintani teve acertos, como levantar bandeiras progressistas, mas, até aqui, decepcionou muito como gestor. Se ele vier a ganhar um título relevante, tudo que escrevi aqui será apenas nota de rodapé na sua biografia. O problema é que dificilmente conseguirá este título, pois, deve deixar o clube até abril do próximo ano para participar do processo eleitoral. E, portanto, seus insucessos ficarão gravados.
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